CuecaLimpa

CuecaLimpa

11 agosto, 2010

Jornal Nacional: Quando Notícia Vira Drama e Eleições São Novelas

Quando se fala de Rede Globo, a primeira coisa que me vem à cabeça são as famosas novelas, que na minha opinião, já foram muito melhores (e talvez por isso mesmo é que a própria Globo vem sempre re-gravando velhas e famosas novelas).

É com sua aura de uma, quase, Hollywood brasileira, quando se trata na fabricação de material de ficção em grande escala e de grande abrangência populacional, que a Globo monta seu misticismo até mesmo no seu noticiário mais importante: O Jornal Nacional.

William Bonner, dentro deste contexto, é o ator principal, e com sua bela voz, seu rosto de galã, interpreta as notícias com inflexões dignas dos grandes astros das rádio-novelas.

Bonner e Bernardes no Oscar
A mulher de William, Fátima Bernardes, não é tão boa nesse tipo de atução jornalística, na qual seu marido tem provado ser um grande mestre, mas se sai muito bem como elenco de apoio. Entretanto, a relação real de marido e mulher, eleva–os ao patamar de uma relação “Dalva e Erivelto” com final feliz. Os dois são astros, celebridades.

Isso é explicável e até aceitável nessa era de globalização da mídia onde no Brasil se copia o formato tele-jornalístico dos Estados Unidos em que os apresentadores interagem entre si batendo papo, jogando conversa fora a maior parte do tempo, e não oferecendo muito aprofundamento sobre a matéria sendo apresentada. Muito embora os âncoras estadunidenses sejam muito bem preparados para tanto comentar fatos quanto abordarem diversas categorias de entrevistados, inclusive aqueles que eles não gostam muito—um bom exemplo seria a Katie Couric, âncora e editora do CBS Evening News, conduzindo a famosa entrevista que literalmente "destruiu" a campanha de Sarah Palin, candidata do partido republicano à vice-presidência dos Estados Unidos em 2008.


Couric and Palin, 2008
Infelizmente, a encenação no Jornal Nacional também é realizada no contexto das eleições presidenciais, onde o Sr. Bonner, o mocinho justiceiro consegue construir e oferecer ao público o melhor candidato à presidência. Na entrevista de hoje com o candidato José Serra, a mais amistosa e cordial de todas, até mesmo as perguntas mais contundentes politicamente, foram feitas em um tom ameno, calmo, diferente aquele apresentado às candidatas Marina Silva, e mais especificamente, à Dilma Rousseff, na qual William parecia ter se inspirado no pitbull do seu vizinho--bem, estou exagerando agora.

Mas eu me pergunto: Bonner, Bernardes e Serra teriam ensaiado a entrevista? Serra teria recebido as perguntas algumas horas antes da entrevista? E eu respondo: Quem sabe? É bem possível.

No caso de um ensaio anterior a entrevista, esta se torna em um drama, onde Serra é o mocinho, Dilma seria a mulher “durona”, má, a vilã, e Marina, coitada, se torna o personagem suplementar que sem querer ajuda o mocinho a derrubar a vilã--mas acaba sozinha no final da trama (nesse caso ela e' abondonada pelo candidato ao governo do estado do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira).

Com toda essa encenação em cadeia nacional, o quê acontece ao jornalismo brasileiro? Qual sera' o efeito que tal liberdade que é auto-concedida ao casal 20 da Globo em recriar um padrão ético de entrevista nas novas gerações de jornalistas? Tudo indica que a falta de prática em entrevistas sérias, os levou aos absurdos deslizes que cometeram durante as entrevistas com Dilma Rousseff e Marina Silva.

Nervosismo, tento crer e me convercer, foi o fator que levou William a ter sua mulher lhe pedindo pra esperar a candidata Dilma finalizar uma resposta que não o estava satisfazendo. Foi ali, naquele momento, que o grande ator se tornou um canastrão ao perder o personagem. Foi ali, que pela primeira vez, pude perceber que William e Fátima são realmente marido e mulher fora do cenário do grande Jornal Nacional.

Nenhum comentário: